Concurso Cultural - Resultado

E aí pessoas. Tudo bem? 

Confesso que não recebi muitos textos para esse concurso, mas os que recebi foram muito bons e isso tornou bem difícil a decisão.

Li e reli todos várias vezes tentando encontrar algum critério que fizesse um diferencial. Afinal, cada história tem o seu próprio caminho até o time e a emoção e os sentimentos em relação a ele são únicos para cada pessoa e só a gente sabe o que a gente sente pelo St. Pauli. Só nós sabemos a paixão que nos leva a torcer por um time, que aparentemente, futebol, é o que menos importa.

Espero que o vencedor do livro aproveite a leitura como eu estou aproveitando, porque é pra deixar qualquer fã mais apaixonado ainda.


Sem mais delongas. O vencedor foi o Murilo Nunes de Curitiba. Parabéns! Vou entrar em contato para pegar os seus dados e enviar o livro.

As outras pessoas que me enviaram, muito obrigada pelos textos. Foi muito legal ler a história de cada um de vocês.



Leiam a história do Murilo:


Futebol, política e rock n' roll. Tais conceitos podem coexistir? Em casos excepcionais, sim. De que diabos esse texto fala? A relação de um torcedor brasileiro de um modesto time alemão. A exceção em questão, chama-se, St. Pauli.

Era um dia de domingo, pela manhã, quando assistia a Globo em um bar onde eu trabalhava. Uma matéria do Esporte Espetacular que teve como tema, a história do St. Pauli e as características que o tornaram um time tão especial. Mal sabia que seria por conta desses minutos dedicados a retratar um time tradicionalmente da segunda divisão da liga alemã, sem estrelas, nem dinheiro, eu me tornaria torcedor e admirador, do clube que possui uma história incomum no futebol. Naquele dia, em meio às servidas de cerveja, cachaça e caipirinhas, tive a sorte de focar minha atenção à televisão. Pois bem, acredito que devido a isso, eu esteja neste exato momento em que escrevo, portando uma camiseta com uma caveira estampada, de um time não convencional d'outro lado do mundo.

Através de qualificações negativas, constatei que as características incomuns deste time, ora apresentadas na matéria, não foram tão bem recebidas entre as pessoas ali presentes. Afinal, quem acha que futebol e política podem caminhar juntos? Quiçá, em tratando-se de um time com posturas esquerdistas? Dentre os poucos, eu sou um.

Mundo afora, xingamentos dirigidos aos adversários comumente são adjetivos baseados em expressões discriminatórias - dentre elas, coniventes com o racismo, sexismo e homofobia –logo, torcer pra um time que ostenta façanhas contra majoritárias, como possuir um ex-presidente assumidamente gay, pode ser considerado um ato de resistência. Se é inadmissível compactuarmos com opressões na sociedade como um todo, isso inclui o mundo esportivo, no qual situa-se o futebol que tanto amamos. Ainda assim, tanto pergunta-se o que o futebol tem a ver com tudo isso. Não seria melhor questionar o porquê do futebol não poder ser compatível com princípios como, respeito, igualdade e pluralidade? O futebol pode ser político! A diversão, a alegria e o lazer podem relacionar-se com questões de cunho progressista e originar uma cultura, mesmo que singela, seja emancipatória. Essa é a tese que defendo.

Se não fossem os segundos preocupado em acompanhar a tv, em horário de trabalho, por mero acaso, eu teria conhecido o St. Pauli? Talvez. Me considero cético para diversas coisas, mas, em um discurso com doses de paixão, pode ser sugerida a hipótese do destino. Por que não? Risos. Desde cedo, sempre fui muito crítico e questionador. No ensino médio, talvez o mais chato da turma - aquele aluno que sempre faz diversas perguntas nas aulas defilosofia ou sociologia, que por sinal, a maioria dos colegas estranha os motivos que fazem um jovem se interessar por questões do âmbito da realidade social com uma perspectiva crítica. Como consequência, meus gostos forampautados em coisas incomuns, ou seja, que geralmente não coadunam com a manutenção do status quo. A tradição do clube em questão foi determinante para que eu ostentasse um punho cerrado no meio futebolístico.

Além de não ser um cientista político, ser solidário à algumas causas, movimentos ou grupos, não faz de mim um herói ou um ser especial. Sou um mero estudante, que curte um bom e velho rock, que carrega consigo um player no bolso e alguns riffs de guitarra de grandes bandas, como The Clash e Rage Against the Machine. No entanto, sinto que seja necessário refletir perante algumas questões que considero relevantes no meio em que vivo e repudiar posturas opressivas perante aos meus semelhantes, especificamente inseridos no mundo do futebol, esporte que tanto gosto. A questão política foi fator determinante para eu caracterizar o St. Pauli como um time especial, encaixando-se como uma luva perante ao que acredito e carrego como princípios em minha vida e, podendo vir a somar no quesito das experiências que me fazem ser um cara realizado.

Ademais, mesmo sendo jovem e não ter acompanhado outras fases do futebol, a não ser a do séc. XXI, acredito que o futebol moderno, vive um momento de crise - ou talvez, seja a própria crise. Onde está a paixão? A raça? A identificação entre jogador, clube e torcida? Será que o dinheiro e as relações mercadológicas se sobrepuseram ao esporte que nos fascina? Na conjuntura atual, o St. Pauli é o clube que se encaixa nas definições por mim elencadas e que possui os pré-requisitos para que eu possa me sentir bem, trajado nas cores de sua bandeira. Eu nunca gostei do Manchester United, Real Madrid e Bayern de Munique; dos grandes times podres de ricos que possuem recursos financeiros, estádios e status num nível altíssimo. Portanto, eu torço pra um time que me identifico, pobre, da segundona e incomum. Não obstante, o que torna esse time incomum, é o que me faz me sentir parte de um movimento.


De uns anos pra cá, adicionei mais um compromisso no meu rol de sonhos a serem realizados: Entoar gritos de guerra pautados em expressões antifascistas em pleno Millerntor, num jogo com adversário no nível de Hamburgo ou Hansa Rostock, ao som de Hells Bells, numa experiência que imagino ser única na vida de um torcedor distante do time mais diferente do mundo. O resultado do jogo? Isso deixo pra um segundo plano, pois, para um torcedor dos piratas, o futebol vai além dos 90 minutos e o placar da partida nem sempre é tão importante. Risos.